Cherreads

Chapter 3 - Primeiras Lições

O treino era implacável.

Sir Aldrich não fazia concessões pelo fato de eu ser apenas uma criança. Desde o primeiro dia, deixou claro que não toleraria preguiça ou distrações.

"Se quer aprender a lutar, precisa primeiro aprender a respeitar a própria fraqueza", disse ele enquanto me fazia repetir os mesmos movimentos por horas.

Minha espada de madeira parecia pesada demais no início. Meus braços tremiam a cada golpe, e meu equilíbrio era precário. Mas eu não reclamava. Cada erro era corrigido com paciência, mas sem gentileza.

"Postura ereta, pés firmes", Aldrich repetia. "Se seu corpo não obedece, ensine-o até que obedeça."

O campo de treinamento ficava nos fundos da propriedade dos Everhart, uma área aberta e reforçada com estacas de madeira para impedir que golpes errados causassem danos fora do espaço permitido. O solo era firme, mas irregular, o que me obrigava a ter ainda mais cuidado ao me mover.

Nos primeiros dias, tudo parecia um desastre. Eu sabia o que precisava fazer, mas meu corpo se recusava a obedecer. Meus braços eram fracos, minhas pernas falhavam e minha respiração logo ficava descontrolada.

E então eu caía.

Caía tantas vezes que perdi a conta. Meus joelhos ficavam arranhados, meus músculos queimavam de cansaço. Mas cada queda era seguida por um único pensamento: levante-se.

Porque um guerreiro que fica no chão já está morto.

A rotina se tornava mais rígida a cada dia. Ao amanhecer, eu treinava minha postura e os golpes básicos. À tarde, minha mãe insistia que eu aprendesse etiqueta e leitura.

"Um cavaleiro precisa ser mais que um guerreiro", dizia ela. Eu sabia que estava certa, mas era difícil focar em letras e números quando tudo o que eu queria era empunhar a espada.

No entanto, força e técnica não eram tudo.

Uma tarde, após o treinamento, sentei-me no jardim para descansar. O vento fresco balançava as árvores ao redor, e eu observava o céu, tentando recuperar o fôlego. Meu pai apareceu sem avisar e parou ao meu lado.

"Você se dedica bastante", disse ele, cruzando os braços.

"Quero ser forte."

Ele me olhou por um momento antes de falar. "O que é um cavaleiro para você?"

Pensei na resposta. Meu instinto dizia que deveria responder algo direto, mas eu queria ser honesto.

"Alguém que lute para proteger o que é importante."

Gregory Everhart manteve a expressão séria.

"Proteger exige mais do que força. Exige julgamento. Saber quando lutar e quando recuar." Ele se virou para o horizonte, o olhar distante. "E exige aceitar que, às vezes, você não pode salvar todos."

Suas palavras pesaram dentro de mim. Na minha vida passada, essa lição foi aprendida tarde demais. Eu sabia como era perder soldados, ver companheiros caindo um a um sem poder fazer nada. O peso da responsabilidade nunca desaparecia.

Por isso, desta vez, eu queria fazer diferente.

Os meses passaram, e meu treinamento se intensificou. Aldrich começou a me ensinar sobre equilíbrio, antecipação de movimentos e controle da respiração. Cada lição parecia simples na teoria, mas difícil na prática.

"Aguente firme."

O som da madeira ecoou quando minha espada colidiu contra a dele. O impacto fez meus braços tremerem, mas eu resisti. Ele pressionou o ataque, forçando-me a recuar. O chão de terra solta dificultava minha movimentação, mas eu me ajustei rapidamente.

O suor escorria pela minha testa. Minhas mãos doíam de tanto segurar a espada, mas eu não recuaria.

"Boa postura", murmurou Aldrich. "Agora ataque."

Avancei. Minha lâmina se moveu rápido, direcionada para o lado esquerdo dele. Mas antes que pudesse completar o golpe, ele desviou e tocou minha lateral com sua espada.

"Seus movimentos ainda são previsíveis", disse ele.

Mordi a parte interna da bochecha.

Mas não discuti.

Eu aprenderia.

E então, um dia, algo mudou.

Durante um dos treinos, Aldrich me entregou uma espada de madeira um pouco mais pesada do que a habitual.

"Hora de testar sua resistência", disse ele.

A arma parecia estranha em minhas mãos. O peso extra tornava os movimentos mais lentos, mas eu ajustei minha postura e me preparei. Aldrich atacou primeiro, obrigando-me a defender. O impacto reverberou pelos meus braços, mas desta vez, eu não perdi o equilíbrio.

Fixei os pés no chão, reajustei a pegada e contra-ataquei.

Dessa vez, meu golpe teve peso.

Aldrich bloqueou com facilidade, mas um pequeno sorriso surgiu em seu rosto.

"Agora sim."

Era um progresso.

E eu queria mais.

Cada treino se tornava um desafio contra meus próprios limites. Algumas noites, minhas mãos estavam tão machucadas que eu mal conseguia fechá-las. Mas desistir nunca foi uma opção.

Minha mãe observava tudo em silêncio. Eu sabia que ela se preocupava, mas nunca interferia. Ela entendia que aquele era o caminho que eu escolhera.

Meu pai, por outro lado, via meu progresso de maneira diferente.

Em um dos jantares, ele me olhou atentamente antes de falar.

"Seu esforço é admirável, Leonard. Mas força sem propósito é apenas violência."

Leonard Everhart

Parei, absorvendo suas palavras.

Ele continuou. "Por que deseja ser forte?"

Eu poderia dar várias respostas. Poderia dizer que queria honrar a Casa Everhart, que desejava seguir os passos dos grandes guerreiros. Mas, no fundo, havia algo mais. Algo que nem eu conseguia explicar direito.

"Porque eu não quero ser fraco."

Meu pai assentiu, satisfeito com minha resposta.

Mas eu sabia que, no fundo, ainda precisava descobrir o verdadeiro motivo.

O tempo passou, e meus reflexos melhoraram. Meus golpes se tornaram mais precisos, meu controle sobre a espada mais firme. Meu corpo infantil começava a se moldar para acompanhar minha mente de guerreiro.

E então, um dia, Sir Aldrich disse algo que fez meu coração acelerar.

"Já está pronto para aprender a usar uma espada de verdade."

Respirei fundo, sentindo a excitação percorrer meu corpo.

Eu ainda era apenas uma criança.

Mas a guerra dentro de mim nunca cessava.

E eu sabia que essa era apenas a primeira etapa da minha jornada.

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