Cherreads

Chapter 2 - Os Primeiros Anos

Leonard Everhart

O mundo era gigantesco. Ou talvez eu fosse pequeno demais.

A primeira coisa que notei após renascer foi o quanto tudo parecia imenso. As paredes eram altas como muralhas, os móveis pareciam torres, e até os rostos das pessoas exigiam esforço para serem vistos por inteiro. Eu estava fraco, vulnerável e, o pior de tudo, incapaz de controlar meu próprio corpo.

Minhas primeiras tentativas de me mover foram frustrantes. Queria erguer os braços, mas eles tremiam e desobedeciam. Queria falar, mas apenas sons incompreensíveis saíam. Eu, que um dia fui um general temido no campo de batalha, agora não conseguia nem virar sozinho na cama.

Os dias passaram lentamente, e comecei a perceber mais sobre aqueles ao meu redor. A mulher que me segurava nos braços me olhava com um carinho que eu não conhecia em minha vida passada. Elena Everhart, minha mãe, tinha uma presença calorosa. Sua voz suave contrastava com a firmeza de seu olhar atento.

Já Gregory Everhart, meu pai, era diferente. Sempre mantinha a postura ereta, observando-me com olhos críticos, como se avaliasse cada pequeno movimento meu. Quando me segurava no colo, seus braços eram firmes, mas sua expressão séria fazia parecer que eu era mais uma responsabilidade do que uma fonte de afeto.

Mas o pior de tudo era não ter controle algum sobre meu próprio corpo.

Lembro-me claramente do dia em que tentei rolar de barriga para cima pela primeira vez. Era uma manhã tranquila, e eu estava deitado no berço, encarando o teto de madeira, enquanto o sol projetava sombras dançantes pela janela. Eu já conseguia mexer os braços e as pernas, mas ainda era um prisioneiro de mim mesmo.

Reunindo todas as forças que tinha, tentei girar para o lado. Meu pequeno corpo tremeu com o esforço, e, por um breve momento, achei que conseguiria. Mas então, em um movimento brusco, rolei rápido demais e bati a testa na lateral do berço. A dor foi aguda, e antes que eu pudesse processar o que acontecera, senti algo inesperado: lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto.

O pior não era a dor. Era a humilhação.

Como um homem que sobreviveu a incontáveis ferimentos no campo de batalha agora chorava por algo tão insignificante? Mas meu corpo era de um bebê, e parecia agir por conta própria. Antes que eu pudesse controlar, um choro involuntário encheu o quarto.

Minha mãe apareceu quase instantaneamente, pegando-me nos braços e sussurrando palavras gentis enquanto acariciava meus cabelos. Por mais que minha mente gritasse que isso era vergonhoso, meu corpo se acalmava em seus braços, como se fosse um instinto natural.

Com o tempo, percebi que lutar contra minha nova condição era inútil. Em vez disso, deveria aceitar e superar cada limitação.

Meses se passaram, e finalmente consegui sentar sozinho. A sensação de vitória foi estranhamente gratificante, e, mesmo que ninguém ao redor entendesse o peso daquele pequeno triunfo, para mim era uma prova de que estava avançando.

Mas um novo desafio surgiu: engatinhar.

Observar os adultos caminhando tão facilmente fazia parecer algo simples, mas, para mim, era um tormento. Meu corpo ainda não era forte o suficiente, e toda vez que tentava me mover, acabava caindo de bruços no chão.

Uma tarde, enquanto estava no quarto, ouvi risadas infantis vindas do corredor. Meus irmãos mais velhos deviam estar brincando do lado de fora. Eu queria ver.

Forçando os braços e as pernas, tentei me arrastar até a porta. Meus músculos tremiam, e cada centímetro que avançava parecia uma batalha. Quando finalmente cheguei perto da saída, exausto, me deparei com um novo obstáculo: a porta estava apenas entreaberta, e eu era pequeno demais para empurrá-la.

Frustração queimava dentro de mim. Eu precisava ser mais forte.

Minha mãe entrou no quarto naquele momento e riu ao me ver caído ali, como se admirasse minha determinação. "Você realmente quer ir lá fora, não é?" Ela me pegou no colo e levou até o corredor, onde meus irmãos estavam correndo pelo jardim.

Foi ali que entendi algo importante. Mesmo que meu corpo fosse fraco, minha força de vontade não havia desaparecido.

E isso seria suficiente, por agora.

Os anos seguintes foram um ciclo constante de desafios e superações. Com um ano e meio, finalmente consegui ficar de pé sem apoio. Com dois anos, meus passos eram hesitantes, mas firmes o bastante para me permitir explorar a casa. A sensação de poder finalmente me mover por conta própria era indescritível.

Com três anos, passei a observar melhor meu pai. Gregory Everhart era um homem de disciplina impecável. Ele treinava todos os dias ao amanhecer, manejando sua espada com precisão. Eu o assistia da varanda, absorvendo cada movimento. Meu corpo ainda não estava pronto para segurar uma lâmina, mas minha mente já começava a estudar os padrões de combate.

Aos quatro anos, comecei a demonstrar interesse real pelo treino. Sempre que via meu pai praticando, tentava imitar seus golpes com gravetos. Ele percebia, mas nunca dizia nada. Apenas observava.

Foi então que, em meu quinto aniversário, ele finalmente me chamou.

"Está na hora de começar a aprender de verdade."

Eu não precisava de mais nada.

No dia seguinte, fui levado até o pátio de treinamento, onde um homem alto e de olhar severo me esperava. Sir Aldrich, um veterano experiente e mestre de armas da Casa Everhart. Ele me avaliou com um olhar afiado e entregou-me uma espada de madeira.

"Vamos ver do que você pode fazer."

Ao segurar a espada, senti um frio na espinha. Era estranhamente familiar.

Dei meu primeiro golpe. Meus braços eram fracos, e minha postura estava longe da ideal. Mas eu não me importava.

A cada dia que passava, meu corpo se fortalecia um pouco mais. Cada treino me aproximava de algo que eu não conseguia nomear, mas que sabia ser importante.

Eu ainda não entendia completamente o motivo de minha reencarnação. Mas uma coisa era clara: se esta era minha segunda chance, eu faria valer cada segundo.

E assim, meu treinamento começou.

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