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Chapter 6 - Entre o Despertar e a Dúvida

Jiwon ainda sentiu o gosto do beijo nos lábios. Seu coração batia acelerado, e a mente girava como se estivesse em um redemoinho. O silêncio que o som ao toque dos lábios de Minjae parecia durar uma eternidade.

— Eu... Minjae, isso não deveria ter acontecido.

Ele franziu o cenho, confuso. — Como assim?

— Estou confusa. Isso... isso não faz sentido. — Ela passou a mão pelos cabelos, nervosa. — É melhor a gente esquecer o que aconteceu, por favor.

Minjae permanece imóvel por um instante. Depois, deu um passo à frente, com um olhar profundo, carregado de algo difícil de nomear.

— Esquecer? Como eu posso esquecer o que é real pra mim desde o primeiro dia em que te vi?

Ela ficou em silêncio, o coração batendo mais forte.

— Jiwon… — sua voz soava firme, mas doce. — Eu te amo. Sempre amei. Só estava esperando o momento certo. Isso entre a gente… é o destino. Você não percebe? A gente se completa de um jeito que ninguém mais consegue. Eu sou a única pessoa que a entende de verdade. —falou isso segurando suas mãos.

Jiwon abaixa as mãos lentamente, sem saber como reagir.

— Você pode não entender agora, mas um dia vai ver que ninguém vai cuidar de você como eu cuido. Ninguém vai te amar como eu amo.

Ele disse isso com tanta segurança, tanta certeza, que era difícil questionar. 

— Eu só queria que você parasse de fugir do que já é nosso. Mas tudo bem. Se precisa de tempo... eu vou te dar.

Ele se virou lentamente, andou até a porta do quarto e parou por um segundo antes de sair.

— Só... não demore muito, tá? O mundo lá fora adora tirar da gente aquilo que a gente mais ama.

E então saiu, deixando Jiwon ali, em silêncio, o peito apertado e a mente girando.

Ela levou a mão aos lábios, ainda sentindo o peso de tudo o que acabara de acontecer.

"Como algo tão intenso pode me deixar tão perdida assim?"

Na manhã seguinte, Jiwon descobriu com a luz suave entrando pelas frestas da cortina. Por um segundo, pensei que tudo havia sido um sonho — o pesadelo, o abraço… o beijo .

Mas quando virou o rosto e viu o moletom de Minjae jogado na poltrona, a lembrança voltou como um soco no estômago.

Suspirou fundo, tentando evitar o turbilhão de sentimentos. Levante-se devagar, vista uma roupa simples e desceu as escadas em silêncio. A casa estava estranhamente quieta. Ela quase acreditou que Minjae havia saído cedo.

Mas ele estava na cozinha.

— Bom dia — disse ele, virando-se com uma xícara de café na mão e um sorriso leve no rosto. Como se nada tivesse acontecido.

— Bom dia — respondeu ela, tentando parecer natural, mas sem conseguir encará-lo por muito tempo.

— Fiz café. E torradas, do jeito que você gosta — disse ele, com um tom gentil, quase cuidadoso demais.

Ela apenas foi sincera, sentando-se à mesa. O silêncio entre os dois era diferente agora. Não era desconfortável… era denso, carregado.

Minjae foi enviado à frente dela.

— Dormiu bem?

— Mais ou menos. — Ela mordeu a torrada, evitando contato visual.

Ele a observou por alguns segundos, depois olhou de lado.

— Sobre ontem... você estava assustada. Eu entendo. Mas eu só fiz o que senti.

Ela finalmente o encarou, o olhar vacilante.

— Minjae... não sei se consigo fingir que nada aconteceu, mas também não sei o que pensar. Foi tudo muito confuso.

Ele se moveu um pouco, apoiando os cotovelos na mesa.

— Jiwon... às vezes a gente não precisa entender de imediato. Só sinta. É confiável. Estou aqui. Sempre estive. E você sabe disso.

Suas palavras soavam doces, mas ecoavam na mente dela com um peso estranho. Como se estava sendo envolvida em algo maior do que poderia decifrar.

Ela apenas assentiu lentamente, mas seu interior se reuniu por espaço. Por esclarecer.

Na escola, mais tarde naquele dia, ela se encontrou com Soyeon no corredor.

— Você tá com uma cara péssima — disse a amiga, preocupada. — O que aconteceu?

Jiwon hesitou. Depois deu um sorriso fraco.

— Só... uma noite difícil.

— Pesadelos outra vez?

Ela parou confirmando. Soyeon sempre vê tudo.

— sim… — disse, olhando para o chão. Temeu contar para uma amiga o que realmente aconteceu por conhecer uma amiga que tinha.

Soyeon a puxa pelo braço, levando-a para um canto mais reservado.

— O que foi esse pesadelo? — pergunta a amiga.

— Então... — Jiwon começa, mas é interrompida quando Dohyun passa os braços pelo pescoço dela e de Soyeon, arrastando as duas para a sala.

Logo em seguida, Minjae entra com seus amigos populares. Ao ver Soyeon agarrada ao pescoço de Jiwon, seu olhar se torna visivelmente enciumado.

O professor substituto Park Seojun, entra logo depois na sala, e Jiwon tenta, a todo custo, evitar olhar em sua direção. A lembrança do que aconteceu faz seu rosto arder. Soyeon percebe e, curiosamente, pergunta o que houve. Jiwon responde, baixinho:

— Depois eu te explico.

Quando o sinal tocou, anunciando o fim da aula, os alunos começaram a se levantar e a empilhar os livros com pressa. Jiwon juntou suas coisas quando ouviu seu nome ser chamado.

— Jiwon, você pode ficar um instante? — disse o professor Park Seojun, enquanto organizava alguns papéis sobre a mesa.

O pedido chamou a atenção de todos na sala. Alguns alunos lançaram olhares curiosos, e entre eles, Minjae observava em silêncio, a mandíbula discretamente tensa.

Jiwon concordou e parou ao lado da carteira, os dedos apertando as alças da mochila.

Quando os últimos estudantes saíram e o barulho no corredor começou a diminuir, o professor caminhou até ela com um sorriso contido.

— Queria saber se você está bem — disse ele, com um tom de voz gentil. — Ontem você desapareceu, e eu… fiquei um pouco preocupado.

Ela baixou o olhar, sem saber onde enfiar a vergonha. Ainda lembrava daquele momento constrangedor.

— Me desculpe por aquilo — murmurou. — Eu... acabei encontrando um amigo no caminho, ele insistiu em me levar pra casa. Eu deveria ter avisado… não quis te deixar preocupado.

Park Seojun a observou por um segundo a mais, como se procurasse a verdade por trás das palavras. 

— Tudo bem. Só queria ter certeza de que você está bem.

Ele então abriu uma bolsa de couro que levava sempre consigo, tirando de dentro uma rosa vermelha, envolta em um pequeno papel celofane. A flor parecia fresca, recém-colhida.

Estendeu para ela com delicadeza.

— Pra você. — A voz saiu serena, mas havia algo escondido naquele gesto, uma expectativa não dita.

Jiwon olhou para a flor, surpresa. Por um momento, congelou. O que aquilo fez? Era um gesto de carinho? Ou… algo mais?

— Obrigada... — murmurou, pegando a rosa sem saber o que fazer com ela. Tentou sorrir, mas o constrangimento era evidente.

Sem querer alimentar perguntas ou olhares especulativos pelos corredores, ela rapidamente guardou a flor dentro da mochila, com cuidado para não amassá-la.

— Bom... você vai. — Fez uma reverência sutil e saiu da sala às pressas.

Enquanto caminhava pelo corredor, sentia a flor dentro da mochila como um lembrete silencioso de tudo o que ficava cada vez mais confuso em sua vida.

E, atrás dela, Park Seojun parou por alguns instantes, com um olhar pensativo — como se esperasse algo diferente daquele acontecimento. 

Já em casa, Jiwon em seu quarto, tentando colocar os pensamentos em ordem. O silêncio parecia mais alto do que nunca. Minjae não havia dito nada desde que chegou — ele estaria dando o espaço para ela? ou teria desistido daquilo que era possível? Sua mãe nunca a aceitaria e viver o rosto da vida presa com a mesma mulher que a atormentara não era seus planos para o futuro.

Deitou-se na cama, fitando o teto por alguns instantes. Tudo parecia confuso, e então, como se puxada por um fio invisível, lembrado-se da rosa.

Levantei-se devagar e abri a mochila. Lá estava ela: uma flor vermelha, ainda intacta, envolta no celofane. Seu olhar fixou-se na cor intensa das sensações. Por que o professor deu aquilo? Aquilo não era... estranho?

Se alguém visse, o que pensariam? Um professor entregando uma rosa a uma aluna. E ela aceitou sem entender o motivo. O gesto, antes apenas de esquisito, agora parecia carregado de algo que ela não sabia nomear.

Segurou a flor com delicadeza, aproximando-a do rosto. Quando aspirou o perfume suave, algo mudou.

Uma onda de calor percorreu seu corpo, e de repente, um estalo dentro da mente. Uma imagem piscou em sua cabeça: uma rosa vermelh a… em uma mão diferente . Uma mão de criança e um sorriso que ela não consegue ver no seu rosto.

— O que…? — sussurrou, cambaleando.

Mais flashes: uma boneca caída no chão, um espelho quebrado, alguém gritando seu nome. Tudo tão rápido, tão confuso. Ela tentou se segurar na quina da cama, mas suas pernas fraquejaram.

O mundo girou.

E então, tudo ficou preto.

No andar de baixo, Minjae finalizou os detalhes de um jantar simples, mas feito com cuidado. Olhava para a escada de tempos em tempos, esperando que ela aparecesse. Quando o silêncio persistiu, limpou as mãos no pano da cozinha e subiu.

Parou diante da porta do quarto e bateu levemente.

—Jiwon ? A comida tá pronta...

Nenhuma resposta.

Bateu novamente, agora com mais força.

— Jiwon?

Seu peito apertou. Algo estava errado.

Girou a maçaneta devagar. A porta não estava trancada. Abriu-a com cautela… e congelou ao ver o corpo dela caído no chão, uma flor vermelha ainda apertada entre os dedos.

— JIWON! — gritou, correndo até ela, o coração disparado.

Se ajoelhou ao seu lado, tentando despertá-la, os olhos arregalados de puro pânico.

— Ei, fala comigo! Acorda, por favor…!

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