Cherreads

Chapter 11 - Antes que Tudo Desabe

No outro dia seria a formatura, e o peso da revelação sobre Jiwon ainda pairava no ar como uma sombra difícil de dissipar.

Kang Mira continuou ajoelhada no chão do quarto, o rosto encharcado de lágrimas. Ela transferiu os olhos para o marido, tomada por culpa e desespero.

— Se você tivesse me contado desde o início... — sua voz tremia — eu não teria feito tudo aquilo com ela. Você me fez odiá-la. Você me transformou em um monstro!

— Me perdoe, Mira — murmurou Kyungwoo, com a voz embargada. — Eu só queria proteger você... proteger a nossa família. Eu tive medo de te perder.

Ele também chorou. As lágrimas desciam silenciosamente enquanto ele se aproximava, ajoelhando-se ao lado dela.

Após alguns segundos de silêncio sufocante, Mira respirou fundo e sussurrou:

— Eu... vou pedir perdão a ela.

Na manhã seguinte, Mira parecia outra pessoa. Seus olhos estavam cansados, mas sua postura era decidida. Bateu na porta de Minjae com calma.

— Vamos sair comigo hoje? — Disse, com um leve sorriso.

—Pra onde? — ele questionou, tentando manter a naturalidade.

— Quero comprar um vestido novo... pra Jiwon usar na formatura. Acho que já passou da hora de acertar o que fiz.

Minjae segurou a surpresa no olhar. Ele já sabia. Na noite anterior, parado atrás da porta entreaberta do quarto dos pais, ouvira cada palavra. O choro da mãe. A culpa que ela finalmente admitiu. A revelação que seu pai havia escondido por tanto tempo. Uma verdade sobre Jiwon. Tudo.

E, acima de tudo, Minjae sabia... aquilo estava mexendo com ele mais do que imaginava.

— Tudo bem — respondeu, com um sorriso discreto.

Depois que entrou em casa com Minjae, subiu direto para o quarto. O encontro inesperado com o professor Park Seojun e sua gentileza não saíram de sua mente. Ela se sentia confusa, vulnerável, como se algo dentro dela estivesse sido mexido de forma irreversível.

O dia amanheceu, Ela se levantou mais tarde que o habitual, pois Não dormira bem. O corpo pesava pela noite mal dormida.

Revirou o armário em busca de algo apropriado para a formatura, mas não encontrou nada que parecesse bonito o suficiente.

Apesar de toda a tensão em casa, seu tio sempre se esforçou para dar o que podia, tratando-a como uma filha. Ainda assim, nenhuma peça parecia adequada para um dia tão importante.

“Talvez eu use o cartão do meu tio”, pensou, lembrando-se do presente que ele lhe dera meses atrás. Como nunca havia comprado nada, ele ainda estava intacto.

Tentou ligar para a amiga, esperançosa de que pudessem ir juntas escolher o vestido, mas ela estava ocupada com um compromisso.

— Ai, Jiwon, me desculpe! Tô presa num compromisso com minha mãe. Não vou conseguir te acompanhar hoje — respondeu a amiga, com pesar.

Suspirando, ela aceitou que teria que ir sozinha.

Ao descer para tomar o café, encontrou apenas a funcionária da casa.

— Bom dia, senhorita Jiwon — disse Sra. Dami, servindo uma xícara de chá.

— Bom dia — Jiwon respondeu, um pouco sonolenta. — A senhora viu minha tia? Ou o Minjae?

— Seu tio saiu bem cedo — disse Dami, com um sorriso cordial. — Minjae saiu logo depois com a sua tia. Mas não disseram pra onde iam.

Depois de terminar o café da manhã em silêncio, Jiwon subiu para se preparar. Tomou um banho demorado, tentando acalmar o turbilhão de sentimentos que carregava desde a noite anterior. Já com os cabelos quase secos e começando a se arrumar, ouviu três batidas suaves na porta do quarto.

Ela congelou.

— Jiwon... posso entrar? — era a voz da tia, Kang Mira.

O coração de Jiwon disparou. Ficou parado por um instante, tentando interpretar o tom calmo — diferente — da voz. Com um leve tremor nas mãos, ela caminhou até a porta e a abriu. O rosto de Mira estava abatido, os olhos levemente inchados, como se já tivesse chorado antes.

— Eu... queria conversar com você um instante. Pode ser? — Disse, com a voz baixa e controlada.

Jiwon concordou com um aceno hesitante e deu espaço para que a tia entrasse. Ainda sentia o peso do medo no peito, como se algo ruim pudesse acontecer a qualquer momento.

— Sente-se, por favor — disse Mira, apontando para a beirada da cama.

Jiwon obedeceu em silêncio, tentando decifrar o que estava por vir. Então, sua tia se moveu devagar, segurando uma sacola de papel delicada.

— Eu... comprei isso pra você. É... para sua formatura — disse, estendendo a sacola com as mãos trêmulas.

Jiwon arregalou os olhos, surpresa.

— O quê...?

Antes que você pudesse reagir, Mira se ajoelhou diante dela. O gesto inesperado fez Jiwon se levantar imediatamente.

— Tia, por favor, não... levante. O que está fazendo?

— O que aconteceu... para agir assim? Pergunta Jiwon sem entender nada.

— Eu preciso... — a voz dela falhou, engasgada pelo choro contido. — Eu preciso te pedir perdão. Por tudo o que fiz com você. Por ter sido cruel. Por ter rasgado aquele vestido... eu não era assim. Mas o que aconteceu me despertou. E doeu. Você também entende o tipo de pessoa que eu tornei. Eu não consigo mais olhar pra mim mesma sem sentir vergonha.

Jiwon sentiu os olhos marejarem. As palavras, embora inesperadas, tocaram algo profundo dentro dela.

— No começo... — começou, a voz baixa — a senhora foi maravilhosa comigo. Eu me perguntava, todos os dias, por que isso mudou. Mas... eu nunca te odiei. Mesmo nos piores momentos. E... sim, eu te perdoo.

Mira a encarou, em lágrimas. Levante-se e, sem resistir, abraçou a sobrinha com força. Jiwon retribuiu o abraço com o coração em pedaços e, ao mesmo tempo, costurado.

Quando a tia saiu do quarto, Jiwon ficou parada por um momento. Olhou para o vestido na sacola como se ainda não acreditasse no que havia acontecido. Seu coração, mesmo sem entender tudo, transbordava. Aquele pedido de perdão... ela esperou por isso por muito, muito tempo.

Jiwon respirou fundo antes de descer as escadas. Usava o vestido que sua tia havia lhe dado — delicado, com caimento impecável, em um tom suave que realçava sua pele clara. Os cabelos estavam levemente ondulados, caindo sobre os ombros como seda, e um pequeno colar completava o visual. Ela se sentia estranhamente… bonita. Pela primeira vez, talvez.

Ao alcançar os últimos degraus, o silêncio tomou conta da sala.

Minjae, que estava de costas conversando com a mãe, se virou e parou no mesmo instante. Os olhos se arregalaram. Ele ficou ali, imóvel, como se tivesse esquecido como se respira.

— Uau… — murmurou, quase inaudível. A mãe dele, Kang Mira, também parecia admirada, com um pequeno sorriso orgulhoso nos lábios.

— Jiwon... você está linda — disse, finalmente, Minjae, com um olhar que misturava surpresa, orgulho e algo mais profundo.

Ela apenas sorriu de leve, constrangida.

No caminho até a escola, um silêncio Minjae estava inquieto, observando-a o tempo todo, como se não conseguisse desviar os olhos.

Ao chegar na escola, o salão já estava decorado para a cerimônia de formatura. Luzes suaves, música ambiente e risadas ecoavam entre os grupos de amigos. Assim que Jiwon entrou, todos pararam por um breve momento. Muitos cochicharam, admirados com sua mudança.

Sua amiga Soyeon correu até ela, segurando suas mãos com entusiasmo.

— Meu Deus, Jiwon! Você está maravilhosa! Parece outra pessoa!

Dohyun também se aproximou, com um sorriso doce.

— Está… linda — disse ele, com sinceridade nos olhos. — Eu ainda quero conversar com você depois das apresentações, lembra?

Jiwon Assentiu.

Minjae, a poucos passos, observava tudo em silêncio. O aperto no peito começou a incomodá-lo. Seus olhos se estreitaram ao ver Jiwon sorrindo para Dohyun.

Foi então que o professor entrou no salão. Mas ele não estava sozinho.

Ao lado dele, estava a mesma mulher da biblioteca — elegante, risonha, segurando seu braço com naturalidade. O olhar de Jiwon se apagou por um instante, seus olhos fixos naquela cena. Um incômodo familiar nasceu em seu peito. Ciúmes? Ela desviou o olhar imediatamente, sentindo-se boba por isso.

Minjae percebeu a mudança no semblante dela e se aproximou.

— Vem comigo — disse, tocando levemente o braço dela.

Ela hesitou, mas seguiu.

Minjae a levou até um canto mais reservado do salão, onde as luzes eram mais suaves. Respirou fundo, claramente nervoso, mas com aquele ar confiante de sempre.

— Jiwon… — começou, olhando fixamente para ela. — Eu sei que talvez não seja o melhor momento, mas eu não aguento mais guardar isso. Você é a pessoa mais incrível que eu conheço. E eu… eu te amo.

Jiwon arregalou os olhos, surpresa. Ele continuou:

— Eu sempre estive ao seu lado. Sempre te protegi. Fui o único que te entendeu desde o começo. A gente tem uma ligação, você sente isso também, não sente? Eu posso te fazer feliz. Eu quero cuidar de você. Como só eu posso.

As palavras vinham com uma intensidade quase sufocante, envoltas em uma doçura ensaiada, mas com um fundo de controle — como se a felicidade dela dependesse apenas dele.

Jiwon ficou em silêncio por alguns segundos, sentindo o peso daquelas palavras.

— Minjae… — disse, com a voz baixa. — Você é muito importante pra mim. E eu sou grata por tudo o que fez. Mas… eu te vejo como um irmão. Me desculpa… não posso corresponder.

A expressão dele se fechou por um breve instante. Mas logo forçou um sorriso.

— Entendi… — disse, apertando os lábios. — Obrigado por ser sincera.

Mas por dentro, algo nele havia trincado.

Jiwon respirou fundo. O clima da festa ainda estava no ar, mas dentro dela, uma tempestade começava a se formar.

Jiwon e Minjae voltaram ao salão logo após a conversa tensa entre os dois. Havia algo diferente no ar, como se a atmosfera tivesse mudado sutilmente. As luzes, antes festivas, pareciam mais frias agora, e a música parecia distante demais para ser percebida com clareza.

Ao longe Jiwon avista uma cena que lhe chamou a atenção.

Seu tio estava em um canto reservado do salão, conversando com alguém — Park Seojun o professor. Ambos falavam em tons baixos, mas gesticulavam intensamente. O professor parecia tenso, com a mandíbula travada e os olhos estreitos, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. Em certo momento, ele passou a mão pelo rosto, respirando fundo, depois fechou os punhos como se estivesse tentando controlar a raiva.

Aquela expressão... não era comum nele.

Jiwon voltou a visão para o salão. Minjae, ainda tentando esconder sua frustração, foi para um lado do salão, deixando Jiwon sozinha por um instante. Jiwon foi em direção a Soyeon que conversava com colegas perto da mesa de doces. Jiwon se aproximou e chamou a amiga pra conversarem a sós.

— Ei — disse, forçando um sorriso.

A amiga sorriu de volta, aliviada por vê-la.

— E aí? Como foi a conversa com o Minjae?

Jiwon suspirou.

— Ele disse que... gosta de mim. Como homem — respondeu Jiwon, num tom baixo.

— Isso não era novidade — disse Soyeon, revirando os olhos com um meio sorriso. — E você? O que disse?

— Que o vejo como um irmão. Ele ficou calado... mas acho que ficou magoado.

Soyeon assentiu, sem dizer nada. Jiwon então desviou o olhar e perguntou com curiosidade:

— E você? E o Junho? Você nunca me contou como terminou de verdade. Ele foi mesmo pro exterior?

Soyeon baixou os olhos, surpresa pela pergunta.

— Foi... Estudou fora por dois anos. A gente se afastou... e, sinceramente, eu evitei saber muito. Nunca mais nos falamos desde que terminamos — disse, com a voz embargando levemente.

— Mas terminamos porque... — ela começou, mas se calou de repente, o olhar fixo à frente.

A porta principal do salão se abrira mais uma vez.

Dois casais entravam — seus pais... e, logo atrás, os pais de Junho.

E com eles... Junho.

O coração de Soyeon deu um salto. As palavras morreram em sua boca.

Junho estava ali. Pela primeira vez em dois anos.

Ela congelou. Jiwon a olhou de lado, percebendo a mudança na expressão da amiga — o brilho nos olhos, o choque, a dúvida, tudo misturado.

O tempo pareceu parar.

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