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Chapter 6 - O GRITO DA MELODIA AILENCIOSA

O som da guitarra disparou como um raio — alto, vibrante, impossível de ignorar.

Eu já tinha sido expulso. Estava saindo, tentando engolir o nó na garganta, quando aquele som me atingiu em cheio. Não nos ouvidos. No peito.

O festival era uma loucura. Gente pulando, sorrindo, cantando. A energia era absurda, viva, quente. Mas dentro de mim, tudo estava calado. Eu continuava imóvel. Travado.

Os garotos estavam arrasando no palco. A multidão vibrava. E então… lá estava ele.

Dançando.

Cantando.

Abalando o sistema. Abalando tudo o que eu acreditava sobre ele, tudo o que ele demonstrava ser.

E eu? Eu só conseguia pensar. Sentir.

Minha frustração era um peso insuportável.

Será que eu não era bom o suficiente?

Preferia acreditar no que os outros diziam sobre mim do que no que eu dizia?

Minha infância foi toda calada.

“Não pode isso.”

“Não ande com tal pessoa.”

“Fique quieto.”

Me impediram de falar com a única pessoa que talvez pudesse ter sido meu amigo.

Fui uma criança reservada. Tinha dificuldade de me expressar. Quando tentava… virava piada.

O pior? A piada vinha de alguém da família. Um primo, talvez. Ou... será?

Será que tudo chegou tarde demais?

Por que nunca conseguimos conversar em paz?

Por que tudo virava conflito?

Sim, eu deixei a desejar. Não fui perfeito. Mas eu tentei.

Durante muito tempo, carreguei um nó na garganta.

Um “cala boca” que nunca me deixou responder.

Um “engole o choro” que me ensinou a sufocar.

Na tentativa de impor uma educação autoritária, você me reprimiu.

Mas por quê?

Por que ainda me trata assim?

Por que nunca me ouviu?

Por que me amaldiçoa com palavras que ainda ecoam na minha cabeça?

Será que eu sou tão inútil assim?

Por que me fez sentir tão injustiçado?

Por que me fez sentir sozinho quando eu tinha alguém do meu lado?

Por que não se expressou como deveria?

Por que me abandonou?!

Por que se distanciou com suas atitudes?

A imagem que eu tinha de um pai amável… alguém que eu preferia mais do que a mamãe… se distorceu.

Hoje, vejo alguém com interesses próprios.

Alguém que pensa só em si.

Por que você não ouve a minha voz?

Eram perguntas que provavelmente não tinham resposta.

Ao som daquela música que era dançante, eu era o único que permanecia imóvel.

Sentia o peso emocional no peito.

O aperto no coração virou lágrima.

Chorei.

Nossos olhos se encontraram.

Por um instante, ficamos nos encarando.

Ele parecia tão relaxado naquela situação... enquanto eu me despedaçava por dentro.

A atmosfera mudou.

Ele cantava um solo que falava sobre rebeldia.

Sobre a repreensão da juventude.

Sobre tudo que eu vivi e nunca pude dizer.

— Ei, garoto… você está bem? — ouvi alguém falar comigo.

Era a voz de uma mulher. E quando me virei...

(...)

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