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Chapter 15 - Fictional Romances and Real Fiancés

A tela do cinema privativo da mansão exibia o ápice do drama. 

A protagonista do dorama estava ajoelhada na chuva, gritando o nome do mocinho que acabara de embarcar em um avião, largando tudo para trás — inclusive o cérebro.

 "Sinceramente… ele é lindo, mas burro," comentou Luna, enrolada em um cobertor que parecia feito de nuvens.

 "Eu tô torcendo pra ela largar ele e se casar com o CEO da cafeteria," disse Victória, com um balde de pipoca. "Pelo menos o outro sabe o que é um guarda-chuva."

Ambas estavam jogadas nos sofás reclináveis, com telão de 500 polegadas, som dimensional e sistema de aromaterapia que liberava perfume de flores coreanas sempre que alguém chorava na tela.

O filme entrou em mais uma pausa dramática e Victória suspirou, virando o rosto para Luna. "Você tem certeza que não vai no Le Bal des Étoiles esse sábado?"

Luna bocejou longamente, ajeitando o travesseiro fofíssimo sob a cabeça. "Absoluta. Tenho episódio atrasado de doramas. Eu preciso terminar todos até domingo."

Victória revirou os olhos, rindo com descrença. "Você é 8 ou 80 demais, sabia? A última vez que vi alguém faltar a um evento internacional foi porque estava em coma. E mesmo assim mandaram holograma de presença."

 "É questão de prioridades." Luna apontou para a tela. "Chorar com uma protagonista de dorama enquanto como trufas embrulhadas em glitter mágico é minha prioridade. E, de qualquer forma… você também não vai."

Victória piscou. "Como assim não vou? Eu confirmei presença!"

Luna se esticou no sofá, com um sorrisinho preguiçoso. "Sim. E as meninas também. Mas no fim todo mundo cancelou. Motivo? Preparativos para Nova York."

 "Você tá brincando." Victória franziu a testa.

 "Nunca." Luna pegou o próprio celular e ergue o queixo com ar dramático. "Quer apostar quanto que elas não vão também?"

Victória puxou o iPhone do bolso do moletom e abriu o grupo das quatro no WhatsApp.

Ela digitou com os dedos rápidos."Gente, alguém ainda vai ao Le Bal des Étoiles sábado? Ou todo mundo largou de vez?"

Demorou menos de um minuto.

@Lumine: "Vou passar. Tenho reunião com a equipe de cinema de Berlim,onde tá sediando um festival secreto de cinema só pra investidores, e MEU FILME vai estrear na sessão privada...LEMBRA?"

@Nikoly: "Meu voo pra Tóquio é sábado à tarde. Tenho a abertura da nova filial do Hoshinami Grand Tower. Sorry."

Victória ergueu os olhos lentamente para Luna, que já estava com o celular em mãos, digitando sem vergonha.

@CheiroDeTerraPósChuva: "Então é oficial. Bal des Étoiles cancelado. Nova York venceu. Victória precisa de vocês pra analisar se o noivo dela é digno ou só mais um mascote de terno."

Victória jogou uma almofada em cima de Luna, que desviou com risada debochada.

 "Luna! Que drama! Não coloca no grupo que eu preciso de avaliação!"

 "Amiga… se a gente vai aturar gente rica, é melhor transformar em comitê de avaliação afetiva. A gente faz checklist."

Victória se afundou mais no sofá. "Não precisava dizer a elas sobre meu noivo"

 "Precisamos a salvar de um casamento insuportável," rebateu Luna, pegando outra trufa. "Relaxa. Se ele tiver mais de 12% de carisma e não usar gel no cabelo, já tá acima da média."

Victória riu, mas o sorriso logo cedeu lugar a um suspiro silencioso. 

O nome do noivo já doía só de pensar. 

Era o retrato do "par perfeito" nos papéis, mas na vida real? Nem comenta...

 "E se eu não quiser ir pra Nova York?" ela murmurou de repente.

Luna parou, olhando-a de lado. Sua expressão suavizou. "Então não vai. Fica aqui. A gente termina esse dorama e depois maratona o próximo. Noivado empresarial que lute."

Victória não respondeu imediatamente, mas seu sorriso foi mais genuíno do que em muito tempo.

— No outro dia —

O som dramático do episódio 39 ainda ecoava pelo cinema privativo quando os primeiros raios do sol se infiltraram pelas persianas inteligentes. A trilha sonora de violinos em chamas e gritos em coreano embalava o ar com o típico exagero das produções que Luna amava.

Luna abriu os olhos devagar, sentindo a cabeça leve, mas o corpo pesadamente preso. "Hnnng…?"

Tentou se mover, mas algo estava... enrolado nela.

Ah...Victória.

Literalmente grudada como um polvo emocionalmente carente. Um braço sobre o estômago. Uma perna atravessada no quadril. E a cabeça aninhada no ombro de Luna com um sorrisinho sonhador, ainda no mundo dos dramas coreanos.

 "...isso é um sequestro," murmurou Luna, bocejando.

Com movimentos de ninja preguiçosa, ela foi desvencilhando-se da amiga nobre, que murmurava em meio ao sono. "...café… mas só se for com marshmallows dourados..."

 "Jesus, Vic... você sonha com cardápio?" Luna resmungou, rindo baixinho.

Ela puxou o cobertor por cima da amiga, desligou o telão com um comando no smartwatch e saiu do cinema pisando descalça nos tapetes que mais pareciam massagem para a alma.

Subiu as escadas da mansão tranquilamente, ainda espreguiçando-se com uma preguiça elegante.

 Chegando ao quarto, deu de cara com o espelho de corpo inteiro.

 "Bom dia, deusa," disse para seu reflexo, piscando.

Rapidamente, foi até o banheiro. Escovou os dentes com creme dental de carvão branco com menta, tomou um banho energizante sob o chuveiro em modo cachoeira ionizada e saiu do banheiro já escolhendo o look da manhã.

Nada de vestidos ou saltos hoje. Hoje era dia de ser atleta profissional por capricho.

Top esportivo branco com recortes metálicos, legging preta de compressão mágica, e um rabo de cavalo tão bem feito que poderia ganhar prêmio internacional de estética casual. Pegou o iPhone e os fones, digitou algo para Ivy sobre o café da manhã mais tarde e partiu.

Atravessou um corredor de vidro com vista para os campos verdes da mansão até chegar onde ficava a academia de treinos exclusivos.

Ao abrir a porta automática, as luzes se ajustaram, revelando o paraíso dos exercícios: Máquinas de última geração com IA de personal trainer. Esteiras que simulavam ambientes virtuais. Sala de yoga com aroma controlado. Área de musculação com pesos que se autoajustavam ao seu nível de energia.

Luna tocou na tela central e selecionou sua playlist.

 "BOOMBAYAH" – BLACKPINK explodiu nos fones.

 "Let's kill this fat… que nem existe," disse ela, rindo, antes de começar o aquecimento.

1h de exercícios.

Mas para Luna, com o corpo aprimorado ao nível de uma supersoldada esculpida pelos deuses, nem uma gota de suor escorreu.

Ela fez agachamentos com pesos que fariam um fisiculturista chorar, alongamentos que desafiaram as leis da gravidade, e abdominais com uma perfeição que fazia qualquer avatar digital parecer mal renderizado.

Seu corpo simplesmente... obedecia.

Cintura fina, abdômen definido, pernas longas com músculos discretos, firmes como uma bailarina de elite.

E enquanto pulava corda numa velocidade que faria um velocista corar, ela cantarolava. "BLACKPINK in your aaaaareaaa..."

A luz da manhã filtrava-se pelas janelas panorâmicas, refletindo nos espelhos como se ela estivesse sendo iluminada por holofotes dos deuses.

No final do treino, Luna desligou a música, respirou fundo, nem cansada, apenas satisfeita e pegou uma água energizante com essência de frutas cristalizadas.

 "Mais um dia sendo perfeita. Cansativo, mas alguém tem que fazer."

Pegou o celular, viu 36 mensagens não lidas, a maioria de Ivy, do grupo das meninas e... uma do idiota do Matthew.

Luna olhou para a tela. "Se for mensagem formal de novo, juro que mando um áudio cantando BLACKPINK desafinada até ele aprender."

Mas antes de ler, decidiu… tomar um banho de novo.

Afinal, manter a perfeição era um trabalho de tempo integral.

Ela atravessou o piso de mármore branco leitoso com detalhes perolados, cantarolando uma melodia.

Jogou o cabelo para trás e, já despida, entrou em seu banheiro-palácio. A água quente caiu em cascata de um teto iluminado por LEDs suaves que simulavam luz solar de primavera. O aroma de rosas e chá branco se espalhava pelo ar.

Dessa vez, Luna não tinha pressa.

Fez um banho demorado, aproveitando cada segundo como uma deusa banhando-se antes de um dia de comando.

Ao sair, escolheu um visual de "milionária casual que pode comprar teu país":

Uma camisa social branca oversized, com detalhes sutis de fios prateados entrelaçados no tecido, elegante, mas sem pretensão.Shorts de alfaiataria nude, perfeitamente alinhados com sua cintura fina e pernas esculturais. E um tênis skatista branco, com detalhes em ouro e sola de quartzo sintético,exclusivo da coleção feita sob encomenda para ela.

Amarrou os cabelos em um coque bagunçado, mas perfeitamente estilizado. Um brinco pequeno, em formato de estrela, cintilava discretamente na orelha. Perfeita. Simples. 

Luna saiu do quarto assobiando e foi verificar se Victória já tinha acordado. Passou pela sala de cinema ainda com cheiro de pipoca mágica e viu os cobertores bagunçados, mas nenhuma princesa Lancaster.

 "Cadê a polvo real…" resmungou, sorrindo de canto.

Uma criada se aproximou, curvando-se respeitosamente. "Milady, a senhorita Victória está no banho. Solicitou toalhas aquecidas e infusão de lavanda."

 "Típico," Luna riu. "Obrigada."

Descendo as escadas, foi direto para a sala de café da manhã, onde uma mesa digna estava posta: pães frescos, queijos raros, frutas exóticas colhidas por monges tibetanos em silêncio absoluto, e panquecas douradas em formato de corações.

Ela se sentou casualmente, pegou uma taça de suco de lichia imperial e deu um gole. 

Com a mão livre, pegou o celular e murmurou. "Ivy, me dá um status da fundação. Como andam os bilhões de cashback?"

No mesmo instante, Ivy surgiu com um holograma de tela flutuante, preenchida com dados dinâmicos e gráficos pulsantes.

 "Bom dia,Luna," disse Ivy com voz suave. "O presidente da fundação executou as primeiras operações em 40 países. Dos bilhões, 30 bilhões já foram aplicados em missões humanitárias de alto impacto."

 "Quarenta países? Tudo isso já?" Luna ergueu uma sobrancelha, interessada.

 "Sim. As equipes de Robôs-Pessoas se dividiram estrategicamente por continentes com maior índice de vulnerabilidade: 5 bilhões foram direcionados para infraestrutura escolar em regiões desérticas da África. 4,2 bilhões para hospitais móveis em áreas de conflito civil. 6 bilhões para programas de erradicação da fome infantil em países insulares da Ásia. E outros 14,8 bilhões divididos em projetos habitacionais, purificadores de água e centros de inovação educacional."

Ivy expandiu uma tela para mostrar um mapa global com dezenas de marcadores em azul-claro piscando. "Desde a ativação do site oficial da Fundação, recebemos 1,2 milhão de e-mails com pedidos de ajuda, parcerias e voluntariado. Os Robôs estão organizando os dados, ranqueando por prioridade humanitária, auditando documentos e prevenindo fraudes."

Luna mastigava devagar um pedaço de croissant recheado com chocolate trufado.

 "Alguém tentou roubar ou fraudar já?"

 "Doze tentativas. Todas interceptadas. Os Robôs ativaram o protocolo e expuseram publicamente os fraudadores nas redes sociais com provas e vídeos editados. Alguns até viralizaram."

 "Hah. Amo," disse Luna, colocando morangos no prato. "E os robôs estão bem? Nenhum colapso por burnout digital?"

 "Eles são alimentados com energia solar. Ainda são mais estáveis que 90% dos CEOs do planeta."

Luna riu sozinha.

Ela olhou pela janela envidraçada da sala, observando os pavões albinos desfilarem no jardim como modelos de passarela, e murmurou. "Acho que Augustus Malroth ficaria orgulhoso se seu nome fosse vinculado a uma fundacao dessas e com seu sobrenome..."

Ivy sorriu sutilmente na projeção.

 "Ele ficaria impressionado, senhora. E o sistema o está também. O nível de karma social da senhorita aumentou em 2.000 pontos. Isso poderá gerar recompensas adicionais em breve."

 "Ufa... então minhas compras bilionárias não foram em vão." Ela brincou, erguendo a taça.

 "Foram processadas como gastos institucionais pela criação da sede e bem-estar dos funcionários. Legal, ético e... multiplicador." Luna suspirou, satisfeita.

Ela olhou para cima, como se falasse com o próprio sistema Tycoon. " A audiência gosta disso?"

Ivy piscou com simpatia holográfica e sumiu, deixando apenas os dados flutuando no ar por mais alguns segundos antes de desaparecerem também.

Luna pegou mais uma taça de suco, olhou em direção ao corredor, e gritou. "Victória, se você não descer, eu vou jogar glitter explosivo no seu shampoo favorito!"

Um grito abafado respondeu lá de cima.

Luna apenas sorriu, satisfeita.

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