A trilha levou-me para além das fronteiras de Brookside, até uma clareira esquecida entre as colinas.
O céu ainda estava carregado, a névoa enrolando-se como serpentes ao redor das árvores, mas ali, no centro da clareira, a atmosfera era diferente. O ar vibrava, como as cordas de uma harpa invisível prestes a se partir.
Foi onde encontrei o que Sethram tentara esconder.
Um altar quebrado, coberto de musgo e runas esmaecidas, erguia-se entre pedras negras. E sobre ele, cravado como uma lâmina, um cristal muito maior que o fragmento que eu carregava. Seu brilho pulsava de forma frenética, como se reagisse à minha aproximação.
Tarde demais percebi a armadilha.
O chão explodiu em chamas azuladas — fogo etéreo, incapaz de queimar carne, mas faminto por essência mágica. Sethram saiu das sombras, os olhos injetados de poder e fanatismo.
⦁ Sempre foi você, Aethera — ele disse, a voz reverberando através do próprio solo. — A Tecelã... a escolhida para restaurar o Primeiro Tear.
Dei um passo para trás, a mente girando.
⦁ Você está delirando — retruquei, reunindo a magia ao meu redor. Mas no fundo, parte de mim já sabia.
As estranhas manifestações de poder desde minha infância... a facilidade em reconstruir feitiços que até magos experientes consideravam "perdidos"... os sussurros que eu ouvia nas noites mais silenciosas.
Eu era marcada.
⦁ Você não entende — Sethram continuou, dando um passo em minha direção. — Com seu sangue e o cristal, podemos reescrever a própria essência de Everia! Podemos ser Deuses!
Ah, sim. O velho sonho dos magos: brincar de Deuses. Sempre termina tão bem.
Tecelando as forças ao meu redor, senti o Véu da realidade estremecer. Mas desta vez, não puxei os fios delicadamente.
Eu arranquei-os.
Num gesto brutal, invoquei toda a energia contida no solo, no ar, até mesmo no fogo etéreo. As linhas se entrelaçaram, vibrando em fúria sob minha pele.
⦁ Então reescreva isto, Sethram. Soltei a magia.
Uma explosão de pura essência tecida — brilhante como mil sois — rasgou a clareira em dois. O altar se partiu.
O cristal maior explodiu numa chuva de estilhaços negros. Sethram foi lançado para trás, seu grito ecoando além da névoa.
Quando o silêncio caiu, senti o peso das coisas mudarem. Algo se quebrou dentro de mim. Algo se libertou.
Ofegante, caí de joelhos, sentindo a marca pulsar viva em meu peito. O fragmento menor ainda queimava contra minha pele, agora vibrando como se risse.
Sabia que aquela vitória era apenas o início.
Sethram tinha falhado... mas os Tecelões Perdidos, não. Eles despertavam.
E eu, Aethera, Tecelã de Essências, era tanto a chave quanto a sentinela.
O fogo etéreo consumiu a clareira atrás de mim, espalhando chamas azuis como estrelas morrendo. No horizonte, o sol finalmente rompia a névoa, dourando o mundo —
⦁ e anunciando que Everia jamais seria a mesma.
Fim.