Episódio 14 – Entre Verdades e Silêncios
O campus estava silencioso naquela tarde de primavera, com as árvores floridas balançando suavemente ao vento. Eu me sentei no banco de sempre, perto da biblioteca, com meu caderno de anotações no colo. Fazia dias que tentava escrever um novo roteiro para o canal, mas minha mente estava ocupada demais.
Desde a conversa tensa com Suho, tudo parecia diferente. Estávamos próximos... mas ao mesmo tempo distantes. Ainda estudávamos juntos, conversávamos nos intervalos, mas havia um silêncio pairando entre nós — como se palavras não ditas pesassem no ar.
— Ju-kyung? — a voz familiar me tirou dos pensamentos. Era Soo-jin.
Ela se sentou ao meu lado sem pedir permissão, como nos velhos tempos. Havia algo em seu olhar — um misto de nostalgia e tristeza.
— Ainda escrevendo sobre maquiagem? — ela perguntou, dando um sorriso breve.
— Tento. Mas está difícil manter o foco ultimamente — confessei.
Ela assentiu. Ficamos alguns segundos em silêncio antes que ela respirasse fundo.
— Eu vi seu vídeo com a colaboração. Está incrível. Você... realmente encontrou seu caminho.
Sorri, surpresa com o elogio.
— Obrigada, Soo-jin. E você? Está indo bem no curso?
— Estou. Mas não é isso que importa agora.
Ela me encarou, séria. Sabia que aquilo era um prelúdio de algo mais.
— Eu queria te pedir desculpas — disse, baixando o olhar. — Por tudo que aconteceu entre nós. Pelo que eu fiz no colégio. Por ter deixado o ciúme me transformar em alguém que eu não reconheço.
Meu coração bateu forte. Aquilo era inesperado.
— Soo-jin...
— Eu não espero que me perdoe de uma vez. Mas... queria que soubesse que eu me arrependo. E que espero que, algum dia, possamos voltar a ser amigas.
Respirei fundo, processando aquelas palavras. Por tanto tempo, carreguei ressentimento. Mas agora, ali, vendo sua sinceridade... talvez fosse hora de começar a deixar o passado para trás.
— Acho que podemos começar de novo — respondi com um leve sorriso.
Ela sorriu também, e foi como se algo dentro de mim tivesse se libertado.
Mais tarde, encontrei Suho perto do pátio da faculdade. Ele estava encostado em uma árvore, mexendo no celular, como sempre fazia quando queria parecer distraído. Eu me aproximei com calma.
— Podemos conversar?
Ele levantou o olhar, e apenas assentiu.
Fomos andando em silêncio por alguns minutos até chegarmos ao terraço do prédio de música, nosso refúgio desde os tempos do colégio.
— Suho... — comecei, com a voz trêmula. — Sobre o que aconteceu... sobre nós...
— Eu sei — ele me interrompeu, com um meio sorriso triste. — Eu também tenho pensado muito.
— Então por que parece que estamos evitando falar disso?
Ele olhou para o horizonte.
— Porque tenho medo. Medo de dizer algo errado e te afastar de vez.
Me aproximei e segurei sua mão.
— Eu também tenho medo. Mas... me afastar sem tentar entender o que sentimos seria ainda pior.
Suho se virou para mim e apertou minha mão com firmeza.
— Eu ainda gosto de você, Ju-kyung. E mesmo que o tempo tenha passado, esses sentimentos continuam aqui. Mas não quero te pressionar.
— Eu gosto de você também — respondi. — E talvez seja hora de pararmos de fugir e simplesmente... viver o que sentimos.
A brisa soprou em nossos rostos, e ele sorriu de verdade, pela primeira vez em semanas.
Mais tarde naquela noite, enquanto editava meu novo vídeo, recebi uma notificação inesperada. Era uma mensagem de Seo-jun.
"Vi o seu novo conteúdo. Está se superando a cada vídeo. Parabéns, Ju-kyung. Estou torcendo por você. Sempre estive."
Fiquei olhando para a tela por alguns segundos. Aquelas palavras, vindas dele, me deixaram com o coração apertado.
As pessoas mudam. Crescem. Se machucam. Se curam. E, mesmo que nem todos os sentimentos encontrem reciprocidade, isso não significa que não tenham valor.
Naquele dia, percebi que a beleza verdadeira está nas verdades que temos coragem de encarar — e nos silêncios que, enfim, aprendemos a preencher com sinceridade.