As primeiras luzes do amanhecer filtravam-se pelas colunas de bambu ao redor da casa da família Jiang. Jiang Yi ergueu-se do banco de pedra, os olhos semicerrados para o orvalho:
Jiang Yi:
-Você realmente quer sair só pra isso?.
Jiang Lan apertou o punho, sem responder de imediato.
Jiang Kun riu baixo, balançando a cabeça:
- Ha ha ha… É que, sabe, todo mundo aqui já despertou o Qi. E você?
Jiang Yi cutucou o irmão mais novo:
- Você deve saber bem… não é?
Jiang Lan ergueu o queixo, decidindo-se:
- Eu sei. Mas eu quero sair, ao menos uma vez
Jiang Yi suspirou, derrotado.
Jiang Kun pousou a mão pesada no ombro de Jiang Lan:
— Tudo bem — disse ele, com um toque quase protetor — mas, antes de qualquer coisa, não se importe com o que dizem.
. . . . .
Solitário, Jiang Lan aventurou‑se pelo bambuzal. Os talos se curvavam sob o peso do orvalho, revelando um inquietante silêncio que parecia convidá‑lo a olhar mais fundo.
Em sua mente, soou o suave som de sinos:
Xiá "Que beleza incomparável…"
Jiang Lan parou, o coração disparado. À sua frente, a clareira se abria para o lago de águas cristalinas, reflexo fiel do céu matinal.
Xiá "Gostou mesmo?"
Jiang Lan sorriu, admirado:
- Sim. É como se a própria vida respirasse aqui.
Xiá flutuou entre os bambus, seu corpo translúcido banhado pela luz:
- Fico feliz.
Nesse momento, risos ecoaram atrás dele. Um grupo de jovens travou-o com olhares afiados: "Olha o coitado, nem qi ele tem — só serve pra apanhar."
Jiang Lan não reagiu a isso, simplesmente sumindo mais a fundo na floresta.
mas Xiá suspirou:
- Eles não entendem seu talento…
Jiang Lan simplesmente balançou a cabeça:
- A lógica desse mundo é essa.
Ele logo chegou a um lago cristalino, Xiá caminhou até a beira do lago e mergulhou a mão na água. Num instante, um vórtice rodopiou à sua volta, fazendo o líquido cintilar como um prisma.
- seu corpo não responde ao Qi… Mas sua alma pode forjar poder. Hoje, unirei um fragmento deste espírito aquático à sua essência
Ela entoou um cântico antigo, e a água vibrou em sincronia com sua voz. Cada gota parecia carregar um fragmento de vontade cristalina. Jiang Lan sentiu um formigamento profundo no peito: algo se revirava em seu interior.
Então, sem aviso, a luz explodiu. A água e a voz de Xiá fundiram‑se ao redor de Jiang Lan, envolvendo‑o em um abraço gelado e vivo. Quando a névoa se dissipou, ele ergueu as mãos — e nelas, como se saíssem de seu próprio ser, despontaram duas lâminas sutis, flexíveis, feitas de pura vontade espiritual.
A névoa matinal ainda dançava sobre o lago quando Xiá ergueu o olhar, vislumbrando a lâmina fluida que se projetava da vontade de Jiang Lan.
— O que é isso? — ela murmurou, o brilho nos olhos denunciando espanto. — Seu espírito se condensou na realidade… é algo que nenhum artista marcial de nível iniciante poderia alcançar.
Jiang Lan ergueu a lâmina de água cristalina, admirando o reflexo distorcido da luz na superfície.
— Eu… eu sinto esse poder em cada fibra do meu ser — disse ele, a voz vibrando de emoção. — É como se eu carregasse o infinito dentro de mim.
Xiá sorriu, a forma translúcida tremeluzindo, claramente feliz.
— Sem dúvidas você o possui — ela elogiou. — Mas saiba: avançar por este caminho é muito mais brutal do que qualquer jornada pelo Qi.
Jiang Lan soltou um suspiro de gratidão.
— Obrigado, Xiá.
— Não agradeça — ela balançou a cabeça, suave como a brisa. — Faria isso e muito mais por você.
Ele se voltou para ela, o coração apertado.
— Sem você, talvez eu ainda fosse apenas um inútil.
— Não diz isso — Xiá pousou uma mão incorpórea em seu ombro. — Sua alma já é poderosa, só precisava de um refinamento.
Houve um silêncio carregado de expectativa. Então Xiá inclinou-se, sorrindo.
— Vejo que deseja testar seu poder. Escolha agora sua arma para o primeiro passo.
Jiang Lan fechou os olhos, lembrando-se de suas raízes na família Jiang de espadachins.
— Um sabre — anunciou com firmeza.
— Boa escolha — a voz de Xiá soou triunfante.
Num estalo suave, a lâmina aquosa se refez em um sabre de tom marinho. Jiang Lan ergueu-o diante do peito, sentindo‑o como extensão de seu próprio braço.
- Ótimo sabre, é como se fosse real, e não o aspecto de minha vontade.