Cherreads

Chapter 10 - Encontros Inesperados.

Naquela noite, após absorver todas aquelas revelações sobre a hierarquia nobiliárquica, não consegui encontrar o repouso adequado. O brasão da Casa Stein permanecia vividamente impresso em minha memória, como se a espada flamejante me observasse atentamente, aguardando alguma resposta ou compromisso de minha parte.

Ergui-me do leito com movimentos cautelosos, caminhei silenciosamente até a janela e contemplei o firmamento repleto de estrelas. O mundo exterior parecia mergulhado em tranquilidade absoluta, mas em meu íntimo, uma tempestade de emoções e pensamentos começava a se formar com intensidade crescente.

"Von..." refleti profundamente. Não era apenas um nome ou partícula nobiliárquica. Representava uma linhagem ancestral. Um símbolo de poder e prestígio que não me pertencia por nascimento. Contudo, eu possuía algo diferente — uma força interior que ardia intensamente em meu peito, algo que transcendia qualquer representação heráldica ou título hereditário.

Ali, envolvido pelo silêncio noturno, tomei uma decisão fundamental.

— Eu não me curvarei diante de preconceitos — sussurrei para a noite, como se selasse um pacto com as estrelas. — Se eles se recusam a nos aceitar por mérito... então serão forçados a nos reconhecer por poder.

Embora meu corpo fosse ainda o de uma criança, naquele momento preciso nasceu o juramento solene que orientaria minha existência nos anos vindouros.

★★★

Uma semana completa transcorreu desde que Mestra Margareth me concedeu este período de descanso. Durante esse intervalo, dediquei-me intensamente ao estudo da ortografia deste mundo. Gradualmente, estou compreendendo com maior clareza o sistema de escrita — e, de fato, as letras apresentam notável semelhança com o Grego Antigo que conheci em minha vida anterior.

Naturalmente, minhas atividades não se limitaram apenas aos estudos linguísticos. Visitei novamente o vilarejo do feudo, aprofundei meus conhecimentos sobre a complexa estrutura da Nobreza Arcana e sobre os Nobres de Sangue-Puro... e sua atitude discriminatória em relação a nós, praticantes das artes arcanas sem linhagem aristocrática.

A propósito, Omar, o respeitado líder da vila, veio pessoalmente expressar sua gratidão pelo tratamento medicinal que recomendei. Segundo seu relato, a maioria dos enfermos já apresenta significativa melhora em seu quadro de saúde.

Evidentemente, não posso deixar de mencionar que, durante esta semana, dediquei considerável tempo à convivência com minha irmã Vivian. "Como expressar adequadamente sua beleza angelical?" — refleti com ternura. "Certamente precisarei desenvolver força e habilidades suficientes para afastar qualquer pretendente indigno que eventualmente almeje sua mão no futuro" — considerei, sentindo um instinto protetor que jamais experimentara em minha existência anterior.

Enquanto cavalgávamos, meu pai e eu, em direção à mansão da Mestra Margareth, avistei à distância uma elegante charrete estacionada diante do portão principal.

À medida que nos aproximávamos do local, meu pai murmurou com voz contida:

— Conde Stein.

"Conde Stein? Não é ele o governante supremo de todo este condado?" — questionei-me internamente, sentindo uma súbita apreensão.

Quando alcançamos maior proximidade, pude distinguir claramente o brasão da ilustre família Stein: uma espada envolta por chamas e raios, encimada por uma majestosa águia, com espigas de trigo emoldurando harmoniosamente todo o conjunto simbólico. As cores predominantes eram azul e dourado — curiosamente as mesmas de nosso próprio brasão familiar, porém em disposição invertida.

Vale mencionar que o emblema heráldico de minha família consiste em dois cajados arcanos cruzados em configuração de X, com uma espada posicionada verticalmente por trás. Nossa paleta cromática apresenta o azul como tonalidade predominante, complementada por detalhes em dourado. Em contraste, o brasão dos Stein exibe o dourado como cor principal, com elementos decorativos em azul.

Ao atingirmos o destino, meu pai — homem de reconhecida honradez e considerável vigor físico — começou a ajustar meticulosamente suas vestimentas, assumindo expressão de apropriada solenidade.

Ele trajava uma túnica de lã azul, de qualidade ligeiramente superior àquelas utilizadas pelos camponeses comuns. Suas calças, confeccionadas com o mesmo material, ajustavam-se adequadamente às pernas, cobrindo-as por completo. Um resistente cinto de couro fixava a túnica à sua cintura. Sobre os ombros, portava um manto também de lã, oferecendo proteção contra as intempéries. Suas botas, de couro escurecido, exibiam sinais evidentes de utilização prolongada, embora se mantivessem em estado satisfatório de conservação. Era um conjunto vestimentar apropriado para um nobre de categoria inferior: desprovido de ostentação, porém limpo e adequadamente composto.

Minha própria indumentária apresentava notável semelhança com a paterna, diferenciando-se principalmente pela substituição do manto por um sobretudo. O tecido mais encorpado desta peça conferia-me aparência discretamente mais formal, embora ainda contrastássemos visivelmente com a sofisticação característica da alta nobreza.

Percorremos aproximadamente dois metros em direção à entrada principal da mansão quando, subitamente, a porta se abriu. Um homem de presença notavelmente aristocrática e imponente surgiu no limiar.

Seu semblante apresentava traços refinados, inequivocamente nobres e bem delineados. Possuía estatura considerável, aproximadamente 1,88m, mantendo postura impecavelmente ereta e presença que impunha respeito imediato. Seus cabelos, de tonalidade avermelhada clara, exibiam corte perfeitamente executado, enquanto seus olhos verde-claros emanavam um brilho simultaneamente sereno e penetrantemente analítico. Suas vestimentas eram de sofisticação inquestionável — incomparavelmente superiores às nossas —, confeccionadas com tecidos de qualidade excepcional e ornamentos discretos, porém evidentemente dispendiosos. Toda sua figura irradiava a imponência característica de alguém nascido e educado em ambientes de refinamento extremo, entre salões adornados com ouro e tapeçarias de valor inestimável.

— Vossa Senhoria, Conde Stein — pronunciou meu pai, executando uma reverência profunda e respeitosa. Instintivamente, reproduzi seu gesto com precisão.

— Sir Lucius — respondeu o conde, com um discreto movimento afirmativo de cabeça.

— Margareth, este é o jovem aprendiz de quem me falastes? — indagou o Conde, dirigindo-se à minha mentora.

— Sim, Milord Stein — confirmou Mestra Margareth com serenidade característica.

Ao erguer novamente minha cabeça, percebi a presença, ao lado do conde, de uma jovem menina que aparentava aproximadamente cinco anos de idade. Seus cabelos, de um vermelho profundo e intenso, já ultrapassavam a linha dos ombros, apresentando-se admiravelmente bem cuidados e reluzentes sob a suave luminosidade matinal. Entretanto, o elemento mais impressionante em sua fisionomia eram indubitavelmente seus olhos — de um âmbar intenso e quase hipnótico, que acentuavam seu encanto natural para além do que sua postura naturalmente aristocrática já sugeria. Seu rosto delicado, de traços refinados, era perfeitamente condizente com sua condição de descendente da alta nobreza.

Ela trajava um vestido longo confeccionado em seda pura, cobrindo adequadamente ombros e pernas, nas tonalidades vermelho e dourado, cores emblemáticas de sua casa. O tecido primoroso movia-se com graciosa fluidez a cada mínimo movimento. Em seu pescoço, reluzia um delicado colar adornado com pequenos diamantes meticulosamente lapidados, que refletiam a luz solar como se portassem fragmentos do próprio firmamento matinal.

— Elian Freimann, filho do Baronete Arcano Lucius Freimann — anunciou formalmente o Conde, voltando sua atenção para mim.

Desviei momentaneamente o olhar da intrigante jovem e respondi com apropriada contenção:

— Sim, Milord.

O conde então pronunciou, com voz que combinava firmeza e gentileza:

— Belle, apresente-se adequadamente.

— Sim, pai — respondeu ela, executando um gracioso movimento de cabeça.

— Meu nome é Belle Von Stein, filha primogênita de Albert Von Stein, Conde Soberano do Condado Stein.

Após sua apresentação formal, executei nova reverência e respondi com a cortesia apropriada:

— Meu nome é Elian Freimann, filho do Baronete Arcano Lucius Freimann. É uma honra e um prazer conhecê-la, senhorita.

— Vosso filho demonstra notável instrução, Lucius. Dificilmente se acreditaria que possui apenas dois anos de idade — comentou o conde, dirigindo-se ao meu pai com expressão de genuíno interesse.

— Vossas palavras me trazem grande satisfação, Excelência. Meu filho, de fato, apresenta desenvolvimento intelectual extraordinário para sua idade... confesso que ocasionalmente sinto até mesmo certa inveja de sua capacidade — respondeu meu pai, com um discreto sorriso e olhar que não ocultava o orgulho paterno.

— Teremos certamente outras oportunidades de encontro, Lucius e Elian. Vamos, Belle.

— Sim, pai — respondeu ela obedientemente. Enquanto se afastava, acompanhei-a discretamente com o olhar. Inesperadamente, ela também voltou seus olhos em minha direção e ofereceu-me um sorriso enigmático, antes de virar-se e adentrar a elegante carruagem.

"O que significaria aquele gesto?" — questionei-me internamente, experimentando genuína surpresa.

— Elian, Lucius, por favor, entrem — convidou Margareth. — Há determinados assuntos que necessito discutir com ambos.

"Espero sinceramente que não se trate de algo grave..." — refleti com apreensão crescente.

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